quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Palavras caladas

Se não te falo, se não te digo
Não é porque eu não consigo
Mais será porque o não quer
A conversa que não posso ter

Se te queira eu falar ou dizer
Cá espera por mim que venha
De uma palavra assim vá poder
Em diálogo que esta contenha

Há conversas que de caladas
Mais estas assim nos falariam
Mas deixá-las horas passadas
Que não mais em nós caberiam

Resumo ao nosso silêncio dito
Esperando o quebrar das linhas
Se por esse é o que eu mais fito
Por aqui terei conversas minhas

Nuno Lopes

domingo, 27 de janeiro de 2013

Uma imagem e as mil palavras


Soneto de um Prazer Maior

Minhas mãos assim crescem
Pelas tuas pernas sem saber
Parar aonde estas querem
Mas me louvam de receber

Se há lábios que em ti dançam
Ou se a esse ponto te alcançam
Se genes de tanto mais querer
Beijarei eu até mais não puder

Sopram-se sussurros elevados
De um fôlego de ti ofegante
Me gritas: não estamos acabados
Vai sim, vai muito mais adiante

Se pelas peles que de nós colam
Não sabemos por cá a razão disto
Mas mal sabes q'os corpos enrolam
Nem tempo de dizer que não resisto

São de momentos especiais na vida
De cumplicidade assim por nós vivida
Que a intimidade em todo lugar espera
Feit'a carne de nossos maiores pecados
Será no fundo por prazeres alcançados

E não, não nos damos nós por cansados
Ao fim de um todo nosso prazer maior
Recordando assim pelo começo que era
Quando no fim os dois sentimos desejados
De ter o assim alcançado com todo o fervor

Nuno Lopes

Uma imagem e as mil palavras


Desacreditas-me

Se tanto tu me ignoras
Como tão bem pareço
Dá-se todas as horas
Aquilo que não mereço

Mas pouco me lixando
Do que tanto importa
Assim vou eu andando
Que pelo mal se corta

Se gozas cá me rio
Por tristezas imundas
Em ilusões que crio
Imaginações profundas

Mais vale alegre sonho
Que de frias realidades
Que não em ti ponho
Minhas puras verdades

Nuno Lopes

Uma imagem e as mil palavras


Autenticidade

Se tu tanto mudas como te vejo
Esperas que gostem num lampejo
Mas se porque fazes sei-o cá Eu
Que façam derreter é o teu desejo

Mas da sorte que me calha, oh vida
Se é Homem assim pouco merece
Uma atenção Dela assim tão decidida
Que o não deve existir é o que parece

Mulheres que se deram numa Colmeia
De tão doces aos olhos de todos parecem
É sorte de o ser que adoçam a plateia
Em todos os Homens nestas tropecem

Não devo ser cá eu soprador de Ego
À espera de como tantos outros sacudir
Por disso eu cá na verdade me desapego
Só digo o que quero sem com'outros repetir

Nuno Lopes

Uma imagem e as mil palavras


terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A Revelação

Se o Mundo criou a Beleza
Que ao Ser de braço dado
É da Mulher a maior certeza
O Mistério por Ela revelado

Soubera ao Homem entrar
Na escuridão de seu interior
E conseguir desta desvendar
A incerteza que se lhe vai pôr

Escondem segredos por trás
Da evidencia em que revelam
Que por fora julga conhecerem
Mas no intimo não se veem capaz

Trazem elas perguntas a respostas
A que nunca veremos esclarecidas
Assim da Natureza foram postas
Como só da forma as são sentidas

Nuno Lopes

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Uma imagem e as mil palavras


In-Beleza

Se a beleza é rico sem conta
Cheia desta que aí carregas
Por quem passas que desponta
O ninguém vê com certezas

Julgá-lo tu que do obvio te digo
Onde te enganas o que cá fora
Iludindo que o belo só aí mora
Pensa lá se mais dizer preciso

Procuro dentro de ti infindáveis
Encantos que aos olhos calháveis
Reparos que só de ti se conhece
Penetrando no interior q'acontece

Aos que tacto falte para apreciar
É que destes não irão conquistar
O que por entre segredos guardas
De dentro vem a poucos são dadas

Nuno Lopes

domingo, 13 de janeiro de 2013

Uma imagem e as mil palavras


Lados que caraterizam

Trago de mim o mais apagado
Ser que nem eu próprio sei
Se faz chama d'outro incendiado
É desse lado que eu viverei

Se uma vida a altos contrastes
Assim é feita como a veja
Em cores duras que reflectes
Talvez designe o que seja

Cores quentes que ao olhar
Invadem quem a imagem vê
Acaba por si esta interpretar

Como uma foto se assim lê
Escuridão que acaba p'estar
Não sabendo desta o porquê

Nuno Lopes

Uma imagem e as mil palavras


O tempo conta-se

Do belo que todo tempo come
Por entre os segundos de brisa
Mais se vai quando se dorme
Não haja dessa beleza precisa

À beleza que não se alcança
De tanto desejo que persiste
É da feiura a maior mudança
Que não queremos ver q'existe

Dizem "Não há belo sem senão"
Vemos "Marcas do tempo que virão"
Cabe ao Homem a visão ilusória

De não desejar troca no espelho
Cicatrizes que marcam na história
E que caminha para lá de Velho

Nuno Lopes

Uma imagem e as mil palavras


O Despudor em Assembleia


Há Suinos num circulo
Que encharcam de bosta
Este rectangulo-cubículo
Sem ter a mesa posta

Um povo que esfomeia
E só lhes cabe as fezes
Pelo Pão que escasseia
Nem migalha que rezes

Ao Politico entra pela boca
O que aos outros faltam
A Merda não é coisa pouca
E pior o cheiro que exalam

Há quem vire ao contrário?
Desta bosta criar de bom
Seria o acerto primário
Politico servir de Garçom

Nuno Lopes

Uma imagem e as mil palavras


Exame ao Coração


Sabes, do que belo se trata?
Ou se soubesses mal mata
Profundamente em ti reparar
O que mais eu possa desejar

Sabes, a intensidade deixada?
Ou se não sentisses o calor
A que se pede dele o sabor
Deixando entr'a pele saciada

Sabes, que um pensamento?
Forma para te ter em mim
Ou se mais são os lamentos
De que não te tenha assim

Sabes, o quanto dói ausência?
Ou da presença magoada
Tanto pesa na consciência
Como no fundo não sab'a nada

Não! Não sabes... o que quero
Por assim te dizer francamente
Se o que guardo no meu intimo
Que só o compreendas eu espero
Mas não, não o direi a toda gente

Nuno Lopes

Uma imagem e as mil palavras


Pensamentos

Há vazios que trazes
Que nem eu te peço
Se do mal me fazes
Saberei cá se mereço

Se'm sobras de luz
No escuro brilhante
Nem estrela conduz
Meu caminho errante

Perdeste houvera dia
O que aqui deste sai
Ou soubera onde vai
Falar o que cá queria

Sabendo se existo
Falará o vento visto
Varrendo-me o calar
Que acabo d'esabafar

Nuno Lopes